sábado, 15 de outubro de 2011

HQ




A EC Comics é, sem dúvida, uma das mais importantes editoras norte-americanas da história dos quadrinhos. Sua influência se estendeu não apenas no próprio campo das HQs, mas também alcançou a televisão e o cinema.

Num trágico acidente, uma lancha atingiu o barco tirando prematuramente a vida de Max Gaines  fundador da Educational Comics, quando Max faleceu deixou uma dívida de 100 mil dólares.

Com esse triste acontecimento, a EC foi parar nas mãos da esposa de Maxwell, Jessie, e de seu filho mais velho, Bill Gaines. Isso deixou a editora em maus lençóis, porque, aparentemente, nenhum dos dois poderia assumir as rédeas do negócio.

Sem muitas opções, Bill Gaines viu-se obrigado a se envolver mais com a editora. Então, começou a ler as revistas que a EC tinha em seu catálogo.

O interessante é que, quanto mais lia os quadrinhos, mais se apaixonava por eles, entendendo que, além de um negócio, também tinha nas mãos algo que realmente gostaria de fazer. Assim que se familiarizou com os negócios, achou que deveria começar a fazer mudanças para melhorar a saúde financeira da Educational Comics. Além disso, levaria as publicações para uma direção que suprisse seus próprios interesses.

A primeira mudança foi singela, mas significativa. Bill mudou o "E" de EC Comics de Educational para Entertainment. Depois, deu uma olhada nas tendências do mercado e encostou todos os títulos publicados pelo seu pai, criando novas revistas como Saddle Justice, International Crime Patrol e A Moon, A Girl... Romance.

Uma de suas idéias era criar uma nova revista para adolescentes, pois esse também era um gênero de bastante sucesso na época. Bill estava particularmente impressionado com a habilidade em desenhar mulheres de um jovem que lhe fora apresentado: Al Feldstein. Com o tempo, Feldstein se tornaria um dos homens mais importantes na EC Comics, além de amigo pessoal de Bill Gaines.

Todas as noites, o desenhista voltava de carona com Bill. A amizade entre os dois crescera tanto, que conversavam sobre qualquer assunto. Foi durante um desses bate-papos que Al disse a Gaines que eles precisavam fazer algo diferente, e não imitar o que os outros estavam fazendo.

Nessa conversa, os dois descobriram uma paixão comum pelas velhas novelas de terror que predominavam no rádio quando eram crianças. Eram histórias tão carregadas de horror e suspense, que eles nunca mais haviam se esquecido delas e da sensação que causavam. Não seria uma boa idéia tentar trazer aquilo para as histórias em quadrinhos?

Estava pavimentada a estrada por onde caminharia a espetacular EC Comics.


Idéia lançada, chegara o momento da prática. Al Feldstein sugeriu a Bill o conceito de ter um apresentador que sempre contasse as histórias de horror. Foi assim que nasceu o Crypt Keeper, um velho decrépito e sarcástico que apareceria sempre no início e no final, respectivamente introduzindo e explicando a moral de cada HQ.
O personagem era, ao mesmo tempo, arrepiante e engraçado, pois conseguia fazer piadas com o trágico e o caótico. Ter o Crypt Keeper apresentando as horripilantes histórias era o primeiro passo em direção ao famoso "Estilo EC".

 

Crypt Keeper apareceu pela primeira vez na revista Crime Patrol # 15 e repetiu a dose com outra de suas assustadoras histórias na edição seguinte.

Logo depois, na revista War Against Crime # 10, apareceu outro personagem com a mesma função: Vault Keeper.
  
O sucesso foi imediato e as revistas venderam como nunca. Além de comprovar o forte apelo do material junto aos leitores, Bill Gaines também estava visivelmente apaixonado pelo novo estilo.

O sucesso fez com que as revistas mudassem de nome: Crime Patrol tornou-se The Crypt of Terror e War Against Crime se transformou em The Vault of Horror.

Aliás, vale desfazer aqui uma confusão que alguns leitores encontram quando entram em contato com o material da EC Comics.

A primeira edição de The Crypt of Horror é a # 17. Isso porque a revista anterior (Crime Patrol) parou no # 16. Naquela época, era comum as editoras iniciarem uma nova publicação aproveitando a numeração de outra cancelada.

Isso era feito para não se pagar uma permissão para uma nova publicação, aproveitando, assim, a licença da anterior. Para os órgãos fiscais, era como se a mesma revista continuasse a ser lançada. Era ilegal? Sim, mas funcionava, na maioria das vezes. The Crypt of Terror acabou mudando de nome novamente na edição 20, passando a se chamar Tales From the Crypt.

Um novo personagem surgiu: The Old Witch, na revista The Haunt of Fear. O propósito era o mesmo dos outros dois personagens decrépitos.

Começava, então, uma interessante e engraçada disputa entre esses personagens, cada um querendo que a sua revista fosse a melhor. Outra grande sacada da EC Comics.

A publicação bolada por Gaines e Feldstein, batizada com o apropriado título de Tales From the Crypt, tornou-se um sucesso espetacular entre crianças e adolescentes e motivo de choque para os norte-americanos adultos. 


Jamais o cidadão comum , classe média, branco, suburbano e fiel defensor do American Way of Life como o caminho mais curto para o Paraíso, iria permitir que seus filhos passassem o tempo lendo histórias sobre aberrações, trapaças, assassinatos, bruxaria, exorcismo e magia-negra. 

Encarar o lado feio e bizarro da vida não estava nos planos de ninguém. 


Exceto da molecada, que, dos cafundós do Arkansas ao centro de Nova Iorque, fazia a fortuna de Gaines comprando qualquer coisa que tivesse o selo EC Comics estampado na capa.

Cada revista trazia seis histórias seguindo basicamente a mesma estrutura. Em poucas páginas (de seis a oito), a trama ia crescendo e envolvendo o leitor de forma a criar um final completamente inesperado e desafiador. Essa fórmula foi por eles mesmos batizada de "Estilo EC".

Era tão eficaz, que influenciou toda uma geração de garotos, como pessoas que se tornariam famosos diretores de cinema, como Steven Spielberg ou John Carpenter.

Outro fator que contribuiu bastante para o sucesso do "Estilo EC" foram os desenhos. Os melhores artistas da época trabalhavam na editora e eram tão apaixonados pelo que faziam, que se esforçavam para criar ilustrações cada vez mais expressivas. Nomes como Al Feldstein, Harvey Kurtzman, Frank Frazetta, Bernard Krigstein, Johnny Craig, Reed Crandall, Joe Orlando, John Severin, Jack Davis, Will Elder, George Evans, Al Williamson, Wally Wood e outros.

O próprio Bill Gaines era declaradamente fã de seus funcionários, o que criava o clima perfeito para a concepção daqueles belos desenhos.

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